PRISMAS?
A pedido de um membro da OG. Vou iniciar, em capítulos,
alguns ensinamentos das elementariedades sobre prismas. Não somente os ópticos
precisam conhecer sobre prismas. Grande parte dos oftalmologistas ouviu falar
do assunto, mas desconhecem os principais fundamentemos. Será que algum deles
estará a acompanhar estes ensinamentos? Não é demérito o desconhecimento sobre
estas lentes. Este conhecimento costuma ser omitido por escolas.
Vamos a eles.
1ª lição
Definição de prisma:
Definição de Ney Dias: É um meio transparente confeccionado de vidro ou
resina, composto de duas superfícies polidas, não paralelas, que tem a
propriedade de desviar os raios de luz, que nele incidem, na direção de sua
base. O deslocamento aparente dos objetos vistos através de um prisma ocorre na
direção do ápice. Já o raio de luz que nele incide desvia-se para a sua base.
A lente prismática é
composta de uma base e um ápice. A base é o lado mais grosso do prisma e o
ápice é seu lado mais fino e conhecido como ápice.
Definição de Michel Millodot:
Prismas usados na correção
e medida do desvio dos olhos. A potência destes prismas é geralmente de poucas
dioptrias prismáticas.
Vemos pelo desenho acima que o raio de luz que incide num
prisma desloca-se para sua base. Vejam no desenho abaixo que os objetos vistos
através dos prismas tem um deslocamento aparente o ápice. Com as lentes de sua
caixa de provas, façam o teste visual. Exprimentem um prisma ∆ 10,00 e
coloquem diante de um só olho, com a base para cima ou para baixo. Vocês
sentirão o que é a diplopia. Ou seja. a imagem vista por um dos olhos será
observada mais para cima ou para baixo.
É assim que um estrábico vê as duas imagens. Nestes casos é difícil a
fusão das imagens vistas pelos dois olhos.
Ápice Base
Um prisma com 2,00 diop. prismáticas desloca o raio de luz,
acima descrito, na distância de um metro, em
Saibam que o uso de prismas nada tem a ver com nitidez. Eles
tem a ver com a superposição de imagens entre os olhos. Tem a ver com
dificuldades de binocularidade, especialmente com a fusão de imagens entre os
dois olhos. (fim da 1ª lição)
Caso atendido na óptica em que valeu o
conhecimento:
Esta
não é uma teoria abstrata e que poucos entendem. É fácil sua compreensão e está
ao alcance de um óptico com alguma experiência.
Cliente
de origem estrangeira e de profissão ‘contador’ entra na óptica somente para
apertar um parafuso dos óculos antigos. Observamos que a espessura de uma das
lentes era demasiadamente alta na parte superior de um dos aros da armação.
Pedimos para observar seus óculos. Notamos que uma das lentes tinha uma
dioptria prismática alta. Verificamos no lensômetro
que eram ∆10,00 dioptrias prismáticas com base
superior, apenas em um dos olhos. Para medir o prisma precisamos do auxílio de
um outro prisma da caixa de provas, colocado com base em direção oposta,
considerando que o lentômetro mede apenas até
∆5,00. Além do prisma as lentes tinham uma correção dióptrica
compatível com a idade do cliente cerca de 50 anos de idade. Tinha ele grandes
cicatrizes no rosto que indicavam ter tido um acidente grave. Explicou ele que
havia tido um acidente de carro e que, após a alta do hospital passou a ter uma
visão dupla e que antes do acidente usava apenas óculos para longe e perto
normais em A.O.
Inicialmente
o cliente mostrava-se totalmente descrente da capacidade dos ópticos
brasileiros especialmente porque a óptica era de um bairro da zona Norte do
Rio.
Mesmo
assim expliquei a ele que poderíamos confeccionar novos óculos com melhor
aparência do que os que ele estava usando e com a mesma função corretiva.
Expliquei que poderia dividir o prisma anterior (em um só olho) e fazermos
óculos compatíveis com sua boa apresentação. Ele pouco entendeu e disse que os
óculos anteriormente confeccionados tinham seguido a receita do médico e não
gostaria de mudar nada. Explicamos que se os novos óculos
propostos não ficasses a contento ele não pagaria as lentes. Assim sendo
se interessou, mesmo ainda descrente, e propôs trazer uma armação italiana o
que foi feito no dia seguinte. Uma armação de acetato na cor demi-blond (amarelo tartarugado).
A receita dele era:
OD.
esf. +1,25 cil. -0,50 x 45° combinado com prisma 10,00 base superior.
OE.
esf. +1,50 cil. -0,75 x 140° (puros)
Adição
2,25.
Analisando
o caso verificamos que o acidente tinha produzido uma diplopia acentuada. O
cliente alegava que somente conseguia dirigir com os óculos e que sem eles
tinha que fechar um dos olhos para evitar a visão dupla.
Propomos
fazer as novas lentes apenas para longe o que foi aceito.
Nosso
procedimento:
1.
Dividimos o
prisma 10,00 por dois e dispomos assim: OD. ∆ 5,00 base superior e OE
∆ 5,00 base inferior. Os esf. e cil. continuaram
os mesmos.
2.
Fizemos isto
porque sabíamos que o desequilíbrio prismático seria mantido e que dois prismas
dispostos opostamente tinham o mesmo efeito de um prisma 10,00 unilateral.
3.
Usamos lentes de
resina índice do mais alto no mercado.
4.
Medimos a
altura dos aros da armação trazida.
5.
Calculamos a diferença de
espessuras para ∆ 5,00 em AO. , entre bordos para o tamanho do aro
vertical com uma sobra de
6.
Evidentemente
os esf. e cil continuaram os mesmos. A DP. foi
obedecida.
Resultado:
O italiano ao experimentar os novos óculos. Inicialmente ficou perplexo com as espessuras. Pediu
para experimentá-los fora da óptica. Ficou realmente deslumbrado com a
aparência das lentes e com a fusão das imagens que era perfeita. Quase não
acreditava. Pagou com muita satisfação.
Uns
dias após, trouxe a esposa para fazer óculos. Em seguida trouxe a sogra e mais
adiante trouxe um vizinho.
Valeu
o conhecimento porque o estrangeiro passou a acreditar mais no óptico e na
óptica.
Na
verdade estes casos não são comuns na óptica. O que é mais importante é o
comentário ‘boca a boca’ que sempre é feito nestes casos.
(fim
da 3ª lição)
Nos ocuparemos de lentômetro (ou lensômetro) convencional
esclarecendo que os esf. e cil. nada tem a ver com as
medições de prismas. Normalmente eles são separados dos prismas. Os prismas têm
a ver com a binocularidade e a dissociação de imagens
vistas pelo usuário e não tem a ver com a nitidez propriamente.
Vamos
a algumas definições de partes e componentes do lentômetro:
Normalmente
se apresenta em cores pretas em diversos círculos concêntricos
no fundo iluminado internamente no aparelho. Cada círculo representa uma
unidade dióptrica de prisma. Elas vão de ∆ 5,00
(o círculo de fora) até ∆1,00 (o círculo de dentro). O retículo gira de
acordo com a posição da base prismática. Ele também
tem posições de 0° a 180°.
1 2 3 4 5
Vemos no desenho acima o retículo, em círculos pretos, e a
mira como uma cruz francesa de cor verde.
Mira (target)
Se apresenta com linhas de cor verde em
forma de cruz francesa, ou seja, com linhas triplas cruzadas
perpendicularmente. Ela aparece nítida no lentômetro quando as dioptrias esf.
ou cil. estão indicadas no tambor graduado das dioptrias.
Medindo-se óculos no OD. quando a
cruz está localizada e cenralizada no círculo correspondente ao número cinco
(desenho acima) com o eixo do retículo indicando zero grau, significa que o
prisma indicado no aparelho tem ∆5,00 com base temporal.
Obs
Nos casos de esf. cil. deve-se
nitidificar o esf. e o cil. de modo que ambos sejam coincidentes com o círculo
correspondente ao prisma.
Obs. 2. Tentei agrupar os círculos
do desenho concêntrico, mas não consegui. Quando vou agrupar os círculos se
escondem. Coisas da informática que não entendemos.
(Fim da 4ª lição)
Prismas
5ª lição
Esclarecimento
Eu não pretendo neste conciso trabalho sobre
prismas encher de teorias mirabolantes ou termos inaccessíveis aos que nada
entendem de prismas. Deixo esta tarefa para outros professores com maior
capacidade do que a minha. Eu quero dar exemplos simples de como podemos ajudar
a visão e o conforto dos que necessitam de correções com prismas de modo
simples e prático.
De que me adiantaria fazer um trabalho complexo
querendo dar a impressão que sou um professor catedrático e muito entendido em
prismas se pouquíssimos me lerão?
Quero ser lido e entendido por um público que
geralmente se dedica à venda de óculos e ainda não teve oportunidade de estudos
mais profundos na Óptica Oftálmica.
Esta postura não significa que eu esteja estimulando
o conhecimento superficial e não aprofundado. Longe disso. Vamos devagar e
quando nossos leitores estiverem nas universidades poderão estudar os prismas
com maior ecletismo.
Projetistas
de óculos e não copiadores de receitas
Nós que nos ocupamos da venda de óculos
corretores das deficiências de visão, não podemos nos
limitar a simplesmente copiarmos receitas ou repassarmos dados sem que tenhamos
a consciência que realmente somos uns verdadeiros “projetistas de óculos”.
Dos que se ocupam das vendas depende a
eficiência, estética, leveza, a exatidão e conforto de quem usa óculos. Temos
que ter conhecimentos e uma certa consciência.
Para
início vamos demonstrar um caso ocorrido com exemplo que se segue:
Uma prescrição de uma oftalmologista indicava:
OD. Esf. +1,00 cil. -0,50 x 85° combinados com ∆ 6,00 Diop. base superior.
OE. Esf. +1,25 cil. -075 x 80° combinados com 12,00 Diop. base temporal.
Tratava-se de uma cliente que tinha sofrido de
um hiper tireoidismo, e
operada, teve tais complicações que resultaram numa atrofia e paralisação de
alguns músculos extrínsecos do olho.
Óculos foram confeccionados em uma outra óptica
por um “copiador de receitas” exatamente como prescritos.
O que ocorreu? A lente do OE. tinha simplesmente uma
espessura temporal de
Fizemos novos óculos com a promessa que se a
cliente se adaptaria, mas se levasse ao oftalmologista este poderia criar
problemas pela receita não ter sido confeccionada exatamente como a prescrição
dele. A cliente ficou em dúvida, mas diante da promessa de que caso não se
adaptasse não pagaria as lentes aceitou.
Nova
disposição dos prismas
Tivemos que proceder a uma
certa divisão dos prismas
indicados na receita original, que se transformou em:
OD. Esf. +1,00 cil.-0,50
x 85° comb. com ∆ 6,71
diop. prismáticas
eixo 153° superior
OE. Esf. +1,25 ciil -0,75 x 80° comb. com ∆ 6,71 diop. prismáticas eixo 333° inferior.
Como
convertemos a anterior prescrição?
1. OD. Dividimos o
∆ 12,00 D. base externa, por dois e tornamos a
prescrição provisoriamente em OD. ∆ 6,00 base temporal e OE com. ∆
6,00 base temporal. Obs. (Faz o mesmo efeito da original quanto a dissociação
de imagens)
2. OD. Também fizemos o mesmo com o ∆6,00 base superior e provisoriamente
dividimo-lo por dois, ficando: OD. ∆ 3,00 base superior e OE. 3,00 base inferior.
3. A receita então se
tornou:
OD.
∆ 6,00 B externa combinado com ∆ 3,00 base superior (dois prismas
cruzados perpendicularmente).
OE.
∆ 6,00 B. externa combinado com ∆ 3,00 base inferior. (dois prismas
cruzados perpendicularmente).
4. Deixemos os esf. e cil
inicialmente de lado porque são refrações distintas.
5. Sabemos que dois
prismas cruzados em qualquer ângulo equivalem a um único prisma resultante de valor dependente
dos prismas dados e do ângulo entre eles.
Sendo assim pudemos utilizar o
resultado de dois prismas cruzados e fabricar lente com um só prisma, como
demonstrado mais abaixo:
6. Recomendo que nossos leitores coloquem dois prismas
cruzados e sobrepostos no lentômetro e vejam o prisma
resultante.
Obs.
Usei para calcular o prisma resultante para cada olho, inicialmente o seguinte
método de cálculo gráfico que será apresentado na próxima lição.
(fim
da 5ª lição)
Prismas - 6ª lição
Dando
continuidade ao que foi descrito na 5ª lição, vamos ao esclarecimento do que
fizemos para calcular o prisma resultante da combinação de dois outros prismas.
Utilizaremos a solução gráfica por meio de desenhos.
Para OD.
·
Tracei uma linha
horizontal com seis unidades de comprimento linear (escolha a mais apropriada) equivalente
a ∆ 6,00 com o vetor indicando base externa (desenho abaixo).
·
Tracei
perpendicularmente uma linha vertical linear com o vetor indicando 3,00
unidades de comprimento (a mesma) base superior.
·
Completei o
retângulo com linhas pontilhadas e tracei uma linha diagonal (com linha viva) e
medi seu comprimento usando as mesmas unidades de comprimento dos dois prismas.
Este é o prisma resultante.
·
Encontrei como
prisma resultante para OD ∆ 6,71 base 153°
·
Medi com o
transferidor o ângulo tangente à linha do prisma maior e encontrei 153°.
Para OE.
·
Tracei uma
linha horizontal com seis unidades de comprimento linear equivalente a
·
∆ 6,00
com o vetor indicando base externa (desenho abaixo).
·
Tracei
perpendicularmente uma linha vertical linear com o vetor indicando 3,00
unidades de comprimento base inferior.
·
Completei o
retângulo com linhas pontilhadas e tracei uma linha diagonal (com linha viva) e
medi seu comprimento usando as mesmas unidades de comprimento dos dois prismas.
Este é o prisma resultante.
·
Encontrei como
prisma resultante para OE ∆ 6,71 base 333°
·
Medi com o
transferidor o ângulo tangente à linha do prisma maior e encontrei 333°.
Fim da 6ª lição