Demanda reprimida se avoluma a cada ano.
Envelhecimento da população brasileira só agrava problema.
Luis Fernando Correia Especial para o G1
A catarata, uma doença tratável e reversível, é a principal causa de
cegueira no mundo e em nosso país. A Organização Mundial da Saúde
(OMS) estima que 48% das pessoas que deixam de enxergar são
portadoras de catarata. O problema é que quase a metade dos cidadãos
brasileiros que precisa de tratamento para esse problema não o
encontra no Sistema Único de Saúde.
A catarata é a opacificação do cristalino, uma estrutura que fica
dentro do olho humano e funciona como uma lente que ajuda a
focalização das imagens. Essa lente natural contém uma mistura de
líquidos e proteínas que permitem a passagem da luz, e o ajuste do
foco é feito por meio de modificações na sua forma, comandadas por
músculos de dentro do olho.
Com o envelhecimento, e pela ação de fatores externos, as proteínas
dentro do cristalino começam a formar grumos (grãos minúsculos), o
que impede a passagem da luz, comprometendo a capacidade visual dos
indivíduos.
No setor da saúde suplementar, as cirurgias de catarata são
realizadas em frequência muito maior do que no setor público. Além
da passagem do tempo, a exposição aos raios ultra-violeta, doenças
como diabetes e colesterol alto, tabagismo e uso excessivo de álcool
contribuem para o surgimento da catarata.
O cristalino que vai ficando opaco causa uma diminuição progressiva
da visão com um borramento inicial das imagens que vai progredindo.
As cores vão ficando menos nítidas até que a pessoa não enxergue
mais.
O tratamento, inicialmente, pode ser feito com lentes corretivas –
que vão se tornando cada vez mais potentes –, porém a solução é
cirúrgica. A retirada do cristalino que deixou de ser transparente e
a colocação de uma lente dentro do olho consegue reparar a visão,
muitas vezes de forma total.
O problema está na falta de disponibilidade desse tratamento na rede
pública de saúde. O próprio Ministério da Saúde registra algo em
torno de 500 mil novos casos de catarata por ano e realiza somente
cerca de 250 mil cirurgias, deixando a cada ano metade dos pacientes
para trás.
O índice brasileiro de tratamento de catarata é de 2 cirurgias para
cada mil habitantes. A OMS estabeleceu como meta que fossem
realizadas pelo menos 3 cirurgias para cada mil habitantes a cada
ano. Por essa conta simples, podemos avaliar a demanda reprimida que
vai se acumulando a cada ano que passa.
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que
somente 60% dos tratamentos necessários são realizados. Se levarmos
em conta que somente foram listados pacientes com catarata avançada,
se todos os pacientes que deveriam ser tratados fossem avaliados, o
déficit se mostraria ainda maior.
No setor da saúde suplementar, as cirurgias de catarata estão na
lista de procedimentos cobertos e são realizadas habitualmente em
uma frequência muito maior do que no setor público, gerando mais uma
distorção do nosso sistema de saúde como um todo.
Diante do envelhecimento da população brasileira, comprovado por
dados do IBGE, os números da catarata mostram claramente que os
desafios que vêm junto com o aumento da expectativa de vida só
tendem a crescer no país.
Fonte:
G1